“Tá muito alto para mim!”
Assim dizia meu filho logo que começou a se expressar. É como se ele tivesse um potinho que ia enchendo de estímulos ao longo do dia até que transbordava e ele não podia mais com barulhos.
Com a pandemia, me dei conta que também sou assim. Tudo ficou mais silencioso e eu, mais calma (sem considerar o medo de ficar doente e morrer, claro). Quando a vida foi voltando ao normal, meu caminho até o parque ficou diferente. Percebi como era ruidoso. Sempre teve tanto caminhão e moto na rua? O barulho do trem que passava atrás da minha casa nunca tinha me incomodado muito, mas agora era insuportável.
Foi mais ou menos nesta época que li The Nature Fix da Florence Williams. Nele, ela explora, o papel da natureza na nossa saúde física e mental. Um dos pontos que ela desenvolve, é a poluição sonora. Segundo Williams, quando estamos dormindo em um lugar barulhento, mesmo que não nos demos conta conscientemente, ficamos em estado de alerta, dormimos mal, etc.
Quando muito do barulho sumiu na pandemia eu pude finalmente entender que parte do meu estado constante de ansiedade se devia a barulheira da vida na cidade. O meu filho pequeno já sabia expressar algo que eu até então não sabia. Estava muito alto para mim também.
Eu já vivia uma vida bem outdoor para quem morava em cidade grande, mas ainda não era o suficiente. Ia para a floresta ou para o jardim de duas a três vezes por semana, mas o que tinha ali era cuidado paliativo para o meu problema com barulho.
A vida em uma cidade pequena de um país também pequeno é infinitamente mais calma. Já sinto meu ritmo mudando. O sol ajuda também. Agora temos um grande terraço do qual escutamos os sinos da igreja e as festas da cidade que acontecem quase todo fim de semana.
Me lembro de uma noite quando a E. era bebê e eu dormi no quarto dos fundos em Berlim que davam para a estação de S-Bahn. Algumas pessoas levaram caixas de som para a estação de madrugada e mesmo com as janelas fechadas, era impossível relaxar. A sensação no meu corpo era de total estresse. Quase todos os meus músculos estavam contraídos e no dia seguinte percebi que meus ombros e costas estavam sempre assim quando saía de casa. Dia após dia à beira de um faniquito sem saber o porquê. A vida toda enchi meu potinho de estímulos no Rio, Nova York, Paris, Buenos Aires, Berlim.
Alguém me disse esses dias que não poderia morar em uma cidade pequena porque vinha do Rio de Janeiro. Respondi que também venho do Rio de Janeiro e que não sei como demorei tanto para chegar aqui. Escrevo isso com os ombros relaxados.
as pessoas acham que faço troça quando digo que prefiro brasília a nova york, MAS, em que pese todas as coisas interessantes que esta cidade oferece - e que admito são muitas -, o caos e o BARULHO são insuportáveis: caminhões, ambulâncias, vizinhos, e pior: dentro de todos os ambientes, escritórios, casas, há sempre um white noise de máquinas: aquecedores, ar condicionados, purificadores: zuuum. a rua é exaustiva, e em casa não se descansa. por isso que todos aqui apelam para QUIROPRATAS, que te eletrocutam e te espancam até seu corpo relaxar. já brasília, em que pesem os defeitos - igualmente muitos -, ao menos há silêncio, o ruído sendo o som das cigarras, tal. ps: a não ser que você more frente a um bar, aí é pior que NY. saudades de berlim, onde o vizinho dá descarga a noite, voce liga para a polícia e a polícia vem correndo e DÁ UMA DURA NELE.
Parar para ouvir e compreender o que meu filho comunica e saber o que ele precisa é algo que sinto muito orgulho na minha maternidade. Você e o Franz me inspiram nessa jornada!