{Estrangeira #13} A furada que é a lista da UNESCO
E a razão pela qual a lista do IPHAN é melhor.
Fui para Alemanha com o intuito de fazer um mestrado em meio ambiente. Após uma aula com o André Trigueiro na PUC-Rio, eu estava fisgada. Me formei em Comunicação e fiz uma extensão no tema. Queria mais. Só que também sempre amei viagens e cultura e quando me deparei com o mestrado em Estudos de Patrimônio da Humanidade da UNESCO no site do DAAD, senti que era o destino.
Consegui uma vaga organizando minha aplicação em 10 dias. Foi uma corrida maluca. Estava muito animada, eram tantas possibilidades! Porém, o rock não são rosas e rapidamente descobri que a lista de Patrimônio da Humanidade da UNESCO é uma falácia.
Você já reparou que a maior parte dos lugares da lista encontra-se na Europa? Será que a Europa é mesmo superior em criar coisas de valor fora do comum para a humanidade? Será mesmo que a natureza deles é tão incrível assim?

Há sete sítios do Egito na lista, incluindo um patrimônio natural. Na Alemanha , 52. Na França, 49 sendo 6 naturais e um misto. No Brasil temos 23 lugares listados, dos quais 7 são patrimônios naturais e 1 é misto.
O Brasil é 15 vezes maior que a França, possui uma natureza extremamente diversa, influências culturais de tudo quanto é lado e no entanto, possui menos da metade do número de patrimônios da humanidade listados. Por quê?
Bom, acontece que para entrar na lista (me sinto um bouncer de balada escrevendo isso), o país onde o patrimônio fica deve preparar uma candidatura que inclui um plano de gerenciamento do local. Este plano deve explicar como o local possui valor universal fora do comum e como se enquadra em ao menos um de 10 critérios definidos pela UNESCO.
Entrou na lista? Maravilha. Agora é necessário formar um comitê de responsáveis e delegar a algum órgão governamental o trampo de manter as condições do local e até mesmo de aprimorá-las, incluindo centros de interpretação do patrimônio, por exemplo.
Tudo isso custa dinheiro e os países mais ricos escolhem investir em entrar e permanecer na lista porque bem ou mal ela atrai turistas de todo o mundo. Existe gente que coloca como meta conhecer todos os lugares listados, há empresas de turismo dedicadas exclusivamente à lista e quase todo mundo fica mais interessado em conhecer um lugar se sabe que ele é considerado pela UNESCO algo de valor para a humanidade.

Só que a UNESCO não colabora com um centavo para manter estes lugares. Eles só são detentores da marca que é usada como uma ferramenta de marketing pelos países que têm grana para pagar a entrada e a consumação dessa festa de rico. Alguns países menos abastados escolhem pagar para alguns dos seus sítios entrarem e marcarem presença, mas não podem bancar a entrada e permanência de todas as maravilhas do seu território.
Daí a gente fica assim, achando que a Alemanha e a França devem ser mesmo o berço da humanidade, quando na verdade a história é outra. Por isso as listas que importam são aquelas desenvolvidas pelo setor de cultura de cada país. No caso do Brasil, o IPHAN mantem as mais perfeitas listas de patrimônio material e imaterial do país e faz um trabalho fabuloso em contribuir para a preservação deles.
Mini curadoria semanal
Adorei ver o catálogo da exposição Nhe’e ̃ Porã: Memória e Transformação do Museu da Língua Portuguesa sobre línguas dos povos originários.
Saiu uma coluna minha nova no Euro Dicas sobre algumas das razões pelas quais troquei Berlim pelo interior de Portugal.
Comentei na última news que ia fazer um filme com as crianças. Ficou pronto. Nos divertimos a valer!
Teresa Caldas Camargo
agora mesmo
Adorei saber como funciona realmente a UNESCO! Porque por duas vezes já me decepcionei muitíssimo com lugares considerados patrimônio da humanidade e que encontrei totalmente abandonados, sujos, mal conservados. Um foi uma ponte no Vietnã e outro à fortaleza de Zanzibar.
Adorei saber como funciona realmente a UNESCO! Porque por duas vezes já me decepcionei muitíssimo com lugares considerados patrimônio da humanidade totalmente abandonados, sujos, mal cons