Sempre morei em cidade grande. Natural do Rio de Janeiro, já morei ou passei temporada em Nova York, Paris, Buenos Aires e Berlim. Quando vivi em Florença achei pequena. Cottbus, na Alemanha, foi uma estadia tranquila, mas eu vivia indo para Berlim, nem me desmatriculei da academia lá.
A vida em Ovar é tranquila. Praia, supermercado, passeios de um dia em aldeias vizinhas. Trabalho em casa da onde escuto os sinos da igreja, os cachorros latindo e as festividades ocasionais próximas a Câmara Municipal. Não tem barulho de buzina, de bêbado nem de discussão.
“Bom dia, senhora!, Tudo bem, Márcia? Prepara um bolinho de aipim, Seu Roberto? Já busco! Melhorou da tosse, Dona Fernanda? Eu ajudo com as compras.”
Este é o som das minhas saídas na rua aqui. O engraçado é que só percebemos a presença de certas coisas quando há falta delas ou a ausência de outras, quando estamos repletos das mesmas. Por exemplo, não tinha percebido que aqui em Ovar não tem buzinação, mas sinto falta de uma boa livraria aqui. Em Berlim, eu ia à livraria toda semana e foi por isso que semana passada quando fui à Lisboa trabalhar, visitei quatro livrarias.
Visitar Lisboa foi como sair de uma dieta maluca, daquelas que a gente fazia quando era adolescente e que terminava em uma recompensa gigante em forma de panela de brigadeiro. Comi a cidade e as livrarias do mesmo jeito alucinado.
Fui a um restaurante de comida cabo verdense com minha amiga Luiza e enquanto conversávamos ela quicava com a música e meus olhos quicavam também e meu coração acho que até passou a bater no ritmo do quique. Comi bem, tão bem, que quis mais e mais.
No fim do meu dia em Lisboa, estava exausta. Nunca havia me dado conta de como ter tanta opção de tudo exaure a alma. Exaure e confunde porque além de exausta eu passei a duvidar do que eu realmente desejava ou queria. Quis tudo, tanto e nada que até já esqueci o quê. Todos os livros, todas as roupas, tudo, tudo, mas ao mesmo tempo nada de verdade.
É coisa demais para caber em um dia e ainda não era suficiente e não sei se você percebeu, mas estou usando conjunção demais nesse texto porque só assim para tentar fazer caber o que não cabe.
Na manhã seguinte caminhei para tentar gastar a cabeça com céu azul. No caminho para o Museu da Marinha, passei por outro, o MAAT. Bonito, tirei foto do exterior para não ter que guardar os detalhes na cabeça já cheia. Cheguei em casa e minha tia me envia um vídeo da exposição que estava lá dentro e eu não comi.
Abriu o apetite, congelei para outro dia.
Meu core é mesmo do sossego só com umas pitadas de agito.
Mini curadoria semanal
Chegou a mim esta plataforma fenomenal, o Guia Negro. Ela fala sobre afroturismo e turismo por uma perspectiva negra.
A Elisama Santos foi no Desenrola dessa semana falar sobre mudar de ideia. Vale a pena ouvir este episódio porque tudo com a Elisama vale a pena.
A Rádio Escafandro também explorou um tema legal essa semana sobre a falácia da sustentabilidade empresarial e disponibilizou o livro Greenwashing de Erico Pagotto para download.