{Estrangeira #25} Fotografando pessoas
Pede o que você quer, o pior que pode acontecer é escutar um não.
Eu tinha 18 anos quando comprei a minha primeira câmera SLR. O ano era 2004 (faça as contas) e eu ainda nem sabia muito bem o que estava fazendo, mas saí registrando o meu olhar durante meu primeiro mochilão.
O que eu mais gostava era de fotografar as pessoas distraídas, espontâneas nos seus viveres próprios. Tinha medo de fotografar crianças e perguntava aos seus pais antes (ainda bem), mas de resto, eram poucas as vezes que eu pedia permissão. A não ser que quisesse um retrato muito na lata. Eu amo retratos.
Segui fotografando paisagens, mas principalmente pessoas. A fotografia digital melhorou e eu me atualizei para trabalhar com fotografia gastronômica e de eventos, mas nunca foi muito a minha praia. Eu gosto mesmo é de filme. Até hoje.
Assim segui até 2011, quando me mudei para a Alemanha e briguei um pouco com a fotografia. Vendi minha digital, guardei as analógicas. Em 2018, fiz um resgate, mas eu já era outra e o mundo também. O mundo já era digital e ninguém gostava de ter sua foto tirada espontaneamente. Pelo menos não na Alemanha.
No Brasil ainda é mais fácil. As pessoas não temem tanto as redes sociais, o poder de uma imagem. Na Alemanha, onde todos se preocupam com proteção de dados, você pode ter um problemão se for pego tirando uma foto de alguém sem permissão. Foi o fim do meu jeitinho e minou muito a minha autoconfiança como fotógrafa de rua. Às vezes, tinha até medo de fotografar uma paisagem e pensarem que estava fotografando uma pessoa.
Compensei trabalhando como fotógrafa de famílias. Desenvolvi um estilo mais natural para as minhas fotos e segui me cagando de medo de tirar fotos espontâneas de pessoas na rua ou até mesmo de pedir por um retrato a um desconhecido. Logo eu que sempre digo aos meus filhos, aos meus amigos e às pessoas com as quais trabalho “pede o que você quer, o pior que pode acontecer é escutar um não”.
Passei a fotografar mais paisagens, especialmente montanhas. Criei um amor pelas florestas e rochas. A arte imita a vida, né? Porque foi nessa época que também passei a viajar mais para o mato. Costumava levar uma digital e duas de filme, mas depois dos filhos, passei a ir só com uma digital menor que a minha de ensaios.
Ainda é possível encontrar no meu trabalho mais recente algumas fotos de pessoas de costas, mas retratos ou fotos espontâneas de desconhecidos atuais, só uma.
Sim, uma. Porque este mês em Marraquexe, eu pedi um retrato. Foi para uma senhorinha perfeita e sorridente que vendia girafinhas de couro por preços justos. Comprei uma girafinha e quando vi sua perfeição, tomei coragem. Fingi não ter tido que tomar coragem, sabe? Fingi confiança. E pedi com a voz firme. Ela adorou o convite.
Que alívio.
Mini curadoria semanal
Adorei este episódio da Rádio Escafandro sobre como na verdade odiamos redes sociais, mas nossa FOMO é grande demais para sairmos.
Saiu minha coluna de maio no Euro Dicas Turismo sobre acampar na Alemanha como uma alternativa mais econômica (e confortável) para percorrer o país.
Eu vi o meteoro aqui em Portugal. Quer dizer, eu vi o céu ficando todo verde. Em algumas partes do país o céu ficou azul e em outras verdes e aqui está um vídeo dessa bagaça que tirou meu sono sexta passada.
Roberta, o mundo ficou muito chato! A espontaneidade das fotos de rua, o registro dos momentos sem pose ou ensaio eram tão especiais e generosos em humanidade! Perdemos todos!