Quando morávamos em Berlim, meu filho sempre pedia para ver as estrelas, mas nunca dava ali na cidade. Luz demais, poluição, aquela coisa toda. Às vezes acampávamos e podíamos ver, mas era verão e ele dorme cedo. Menciono o verão porque é quando a escuridão cai e está tarde até para mim.
Há uns anos ganhei um telescópio da minha madrinha. Eu amei. Com ele pude ver a lua muitas vezes lá da janela do quinto andar da Florastraße. Só que levar esse trambolho para lugares remotos com mais duas crianças fica complicado.
Quando fui ver o céu na lua nova em Westhavelland, me senti tomada por um cobertor de estrelas. Olhar fixamente para o infinito naquele nível de escuridão (Westhavelland é um dos lugares mais escuros do país) é como ser engolfado por um nada purpurinado. Só que o filhote ainda era bem pequeno e não aguentava segurar os olhos abertos até tão tarde.
Minha fascinação com o céu não é de agora. A vista em Westhavelland me transportou para a sensação que tinha abaixo do céu da fazenda da minha infância. Será que esse céu ainda existe?
Em uma visita mais longa ao Rio, cheguei até a fazer um curso de observação do céu no Planetário. Ajudou a dar nome a alguns dos pontos do céu, mas isso tudo exige treino e o céu do Brasil é diferente do céu da Europa.
O primeiro livro do espaço do meu filho, comprei em 2020 em Berlin, Maryland logo antes de tudo fechar por completo. Ele não queria. Queria o do bombeiro. Comprei o do bombeiro e o do espaço e apenas um ou dois anos depois ele se interessou mais. Agora são vários.
Fim de semana passado minha mãe chegou para visitar e F. já reclamou que os pais dele não o deixam ver o céu à noite. Em Portugal moramos no último andar de um apartamento em uma pequena cidade com pouca poluição luminosa.
Aqui, finalmente F. poderia ver o céu, mas é uma criança que tem que dormir. Lembrei a tempo que esta manhã haveria o grande alinhamento dos planetas do sistema solar, seis planetas juntinhos. Teríamos que acordar antes do nascer do sol para ver. Perguntei para F. se ele queria que eu o acordasse.
“Mas vai ter que deitar e dormir cedo para aguentar o dia, hein?”
Topou, claro. Pulou da cama às cinco da manhã. Vimos Marte e Saturno sem apetrechos com facilidade, mas os outros não conseguimos. Sei lá, fizemos algo errado com o telescópio.
“Mamãe, eu tô vendo os anéis de Saturno!” :)
Gosto de dividir isso com ele, mas hoje cochilei fazendo unha. Daqueles cochilos de dois segundos que cabem um sonho e só acontecem quando estamos quebrados.
Dia 28 de agosto teremos outro grande alinhamento de seis planetas. Dia 28 de agosto terei um binóculo. Torçam por céu limpo.
Mini curadoria semanal
Eu amo o podcast Prato Cheio. O último episódio foi sobre a inutilidade do whey como suplemento.
Sou fã do trabalho da Daniela Arbex. Entrei no Arbexverso há alguns anos através do livro Holocausto Brasileiro e recentemente descobri que há uma adaptação dessa obra em vídeo grátis no Youtube.
Conversei com o Marcos há umas semanas sobre a experiência dele fazendo turismo e, mesmo trabalhando com acessibilidade, me surpreendi com o quão ignorante ainda sou. Agora ele fez um vídeo sobre o tema.