Eu não sou de sentir saudade, acho que por isso é fácil ir embora. Lembro de sentir muito quando era criança. Sentia falta da minha mãe, falta do meu pai e sentia outras faltas também. Acontece que chega um dia que a gente tem tanta falta que supera.
Não digo que tenha superado completamente, mas superei bastante. Adulta, não sinto falta de quase ninguém. Sinto falta mesmo é de situações. Sinto falta de dar risada cara a cara com o meu amigo Claudio, ou de viajar com a Cecília. Sinto falta de viajar com amigas para Cancun ou de mochilar sozinha sem planos e sem ter que olhar email do trabalho. Sinto falta do que já passou e não está mais ao meu alcance. Ou pelo menos não tão facilmente.
Também sinto falta do que não poderia acontecer. Meu pai conhecer a família que formei e acabar vindo morar aqui em Portugal. Participar do dia a dia dos amigos no Brasil, ir morar no nordeste e criar meus filhos descalços. A vida é uma série de acontecimentos e escolhas e alguns caminhos não têm retorno simples.
Meus filhos são diferentes de mim. Já sentem falta do que não têm. O mais velho fez seis anos fim de semana passado e fomos a Madrid (Rio x SP daqui da minha realidade) conhecer o Parque Warner e depois seguimos com outros familiares para a França visitar minha prima (uma das poucas pessoas que sinto falta mesmo). Antes de planejar tudo, disse para o mais velho que ia ficar difícil bancar uma festa na nossa cidade, uma comemoração na França e uma viagem para parque de diversão.
Pedi que fizesse algumas escolhas e ele escolheu comemorar com a família na França. Disse que isso era o mais importante para ele. Ele abriu mão de uma festa com os amigos com castelo inflável e o caralho a quatro para comemorar com um bando de coroa em casa. Ele sente falta disso, dessa convivência e de um bando de referências. Ele já sente falta do quê não tem. Falta do amor incondicional da grande família brasileira, sabe? Aquela que pega no colo e fala que ele é incrível o tempo todo. A que dá chocolate escondido e faz cosquinha.
Pais imigrantes lutam todo dia é pra pertencer.
Mini curadoria semanal
Saiu minha coluna de junho do Euro Dicas Turismo sobre como era viajar antes dos smartphones.
Li o último livro da Tamara Klink, Nós. Nunca imaginei que seria tão fã de alguém tão mais nova que eu. O talento desta mulher é difícil de descrever em palavras.
Recomendo o livro infantil Haroldo para todas as famílias. O livro trata a diversidade humana de uma maneira bem divertida. Meus filhos não largam, não aguento mais.