Não cresci em um ambiente musical. Ouvia algumas coisas quando estava com meu pai. O álbum do filme Grease, o do filme Filadélfia, o da Elis e Tom. Lembro de ser criança e ficar lendo o encarte do CD para decorar Águas de Março. Na casa da minha mãe tinha uns CDs que ninguém ouvia, porque ninguém ia à sala. Eu gostava de escutar baixinho depois da escola os do Legião Urbana para decorar a letra de Faroeste Caboclo e Eduardo e Mônica. Aliás, lembro da primeira vez que escutei Eduardo e Mônica. Foi no rádio do carro do meu pai, chegando na Praia de Botafogo.
Por um tempo, ia a escola com o pai de uma vizinha e ele escutava pagode e samba, mas por um tempo botou uma rádio que todo dia tocava as mesmas músicas na mesma hora. Lembro de duas: Should I Stay or Should I Go do The Clash e aquela que o tempo escorre pelas mãos do Lulu Santos.
Na pré-adolescência entrei em uma onda pagodeira e de repente sabia todas as letras do SPC o mesmo tempo que amava Claudinho e Buchecha. Foi nessa época também que ganhei um CD do Nirvana e me apaixonei por Green Day. Em algum momento ganhei um álbum do Oasis e foi amor a primeira ouvida. Lembro de atravessar o Zuzu Angel para São Conrado no carro com meu pai enquanto tocava You're Never There do Cake.
Já na adolescência, entrei numa onda emo-alternativa e passava as horas da escola escrevendo letras de Dashboard Confessional, Weezer, The Get Up Kids, Me First and the Gimme Gimmes, Incubus que eu baixava no Napster ou Lime Wire sob a influência da Leticia. Na faculdade a influência foi de outra amiga que me apresentou Kings of Convenience e The Notwist. Depois a Páris me mostrou Los Hermanos e Presidents of the United States, a Julia foi responsável por Portishead e Massive Attack quando me queimou uma compilação de músicas sensuais. E assim segui minha educação musical sendo influenciada pelas pessoas no meu caminho e lembrando delas sempre que escuto algo que me trouxeram.
Depois músicas passaram a se conectar a lugares, além de pessoas. Quando fiz meu primeiro mochilão na Europa em 2004, levei Radiohead no meu discman. Foi a Ana que me mostrou e foi com ela também que assisti Placebo em Londres. Na mesma viagem teve Incubus em Florença, meu primeiro show sozinha. A partir daí a música foi virando trilha sonora de viagens.
Here Comes the Sun me lembra fazer o W na Patagônia chilena no meu aniversário de 2009. Em 2011 fui para Buenos Aires com o Marcelo e foi no bar de um amigo dele, o Ila, onde conheci Lisztomania do Phoenix. Get Lucky do Daft Punk me lembra a Cidade do México. Ali, comprei umas três músicas no iTunes (era o que dava) e escutei a viagem toda.
Quando cheguei em Berlim tocava sempre We are Your Friends do Justice vs Simian e eu sempre vou lembrar de escutar isso na baladinha que frequentei no primeiro ano e quando viajava sozinha em Dresden. Bowie e The Cure também me lembram Berlim e na minha festa de casamento tocou Mint Car quando chegamos para comemorar com os amigos. Fui ao show do Metric sozinha e quando voltei, meu cachorro estava morrendo em casa. Não posso mais escutar Metric e ser feliz.
Quando meu filho nasceu, busquei incessantemente uma música para ser só nossa. Pensei em todas as letras que sabia em português e encontrei Só Tinha de Ser com Você da Elis. Canto Elis para minha filha Elis também. Passei um longo período apenas ouvindo podcasts, brigada com músicas, só indo ocasionalmente a shows das bandas que gostava, mas não ouvia mais. Vantagens de ter uma sogra trabalhando no rádio. Vi Green Day, Madonna, The Cure, Portishead e muitas outras que mencionei aqui e mais outras ainda, mas parei de criar memórias com trilha sonora.
Foi apenas quando briguei com Berlim que, pouco a pouco, a música voltou a tomar espaço na minha vida. Voltei a escutar uma playlist antiga enquanto fazia um trabalho meio mecânico sozinha em um escritório da minha rua. Ao mesmo tempo, timidamente, fui no show do Seu Jorge, Elza Soares, Caetano, Emicida e outros. Sem perceber, a música voltava para a minha vida me mostrando o que eu precisava. Eu precisava de dias mais solares, de dias de Brasil.
Já em Portugal, voltei a usar o meu Spotify e até cogito uma versão paga. Minha filha ama música e me ajuda também. Agora alterno podcasts e música. Música brasileira. Música que canto enquanto ando de bike ou que danço com os filhotes na sala de casa.
Em julho vou ver Djavan pela primeira vez.
Mini curadoria semanal
Uma lista de parques de diversão abandonados pelo mundo.
Saiu meu primeiro artigo para a revista da Babbel e eu tô super feliz. É sobre palavras vindas do tupi que usamos no dia-a-dia. Aprendi um montão fazendo essa pesquisa.
Também saiu minha coluna de junho no Euro Dicas sobre as coisas que me fazem feliz em Portugal.
Como sempre adorei ler estrangeira!
De quebra também li sobre as palavras em tupi (que diga-se de passagem amei) e ainda li sobre o que te faz feliz em Portugal.
Essa última me fez voltar no tempo quando morei em Washington e lembrar de como é triste viver num lugar frio, muitas vezes sem sol, céu azul e especialmente sem a praia e o mar! Sol e céu azul são importantes para minha vida. E a praia e o mar imprescindíveis! Já não frequento a praia como antes, mas só de saber que está tão perto e que posso sempre que quero passar horas olhando o mar tão perto que esta da minha casa, acalenta a alma e o coração!