Lembro de comprar um corta-vento azul, uma necessaire e um isolante de daqueles metálicos na lojinha de aventura que ficava escondida em uma dessas salas de Ipanema. Foi a Mari que me levou lá.
Além de me levar na loja e me dizer o que comprar, a Mari também me explicou que era para comprar uma passagem para La Paz de ida e a volta seria por Lima. Nós passaríamos pelo Salar de Uyuni e faríamos a trilha para Machu Picchu. O ano era 2005 e eu não sabia nada sobre esses lugares, sequer sabia que existiam. Estava a um mês de completar 19 anos e não sabia nada do mundo além do que aprendia em viagens e do feudalismo que parece que foi a única coisa que aprendi na escola.
Já em La Paz, levaram a câmera nova da Mari na rodoviária. Depois, não sei onde, mas talvez na rodoviária mesmo, conhecemos um grupo de viajantes brasileiros e colamos. Havia uma greve e a cidade foi fechada. Viajamos em um ônibus clandestino de madrugada que foi menos apedrejado por sair da cidade quando a maior parte das pessoas ainda dormia.
Fomos juntos para o Salar, para o Lago Titicaca (outro lugar que só soube que existia por causa da Mari) e, finalmente, para Machu Picchu. Naquela época, há quase 20 anos (!), era tranquilo chegar em Cuzco, entrar em uma loja qualquer e marcar a trilha clássica para dois dias depois. Tempo suficiente para entrar em outra loja e fazer uma tatuagem comemorativa que infeccionou durante a trilha e acompanhar a Mari a fazer um piercing no nariz que fez a mãe dela desconfiar de mim por alguns anos.
Lembro que custou pouco mais de 100 dólares pelos quatro dias. Outros tempos. É engraçado o que a gente lembra, grava na cabeça. Logo no primeiro dia zoamos uma americana que encantada dizia “Look! Waterfall!!!” (Olhe! Cachoeira!). Ainda lembro disso quando vejo uma cachoeira porque agora eu sou a gringa encantada com o que há 20 anos era nada demais para mim. Um dos caras com quem estávamos viajando só conseguia cagar sem roupa e sofreu demais. O primeiro banheiro que encontrou no meio do nada, no terceiro dia da trilha, foi onde vimos suas roupas penduradas pela primeira vez. E foi na última noite que usei o isolante metálico por cima do meu saco de dormir comprado na Bahia.
Nos separamos do resto do grupo após a trilha e fomos para lugares que, pasmem, eu pesquisei no meu Lonely Planet, mas que com certeza a Mari já conhecia. Fomos para Nazca, onde sobrevoamos as linhas misteriosas e vimos múmias e conhecemos o Vale do Colca, onde vi um condor andino como o da minha tatuagem que estava infeccionada.
Nunca mais vou poder viajar assim. Um mês dando satisfação por email se der tempo de ir na lan house. Um mês vivendo só o que estava na minha frente, com minha amiga desde sempre mais culta que eu. Um mês viajando com menos de 500 dólares. Os tempos são outros, as responsabilidades também.
Queria mesmo é ter sabido disso tudo quando estava lá, naquela época que achei Inca Kola uma delícia. Ew.
Mini curadoria semanal
Agora já posso dizer que assisti This Is Us. Demorei para conseguir ter acesso a ela e posso dizer que é tão incrível quanto todo mundo diz mesmo. Já quero ver de novo.
Amo os textos curtos, mas arrebatadores do Marcos Piangers.
Adoro assinar o Clube Passageiro do Matheus de Souza. O acesso aos textos é gratuito, mas ele também oferece workshops mensais que super valem a pena. Além disso, rolou uma cobertura super especial das Olimpíadas. Lê lá!
Você me fez lembrar da minha viagem inesquecível ao Nordeste, quando eu também tinha 19 anos e mal conhecia aquela região do nosso país!
Férias de verão da faculdade e lá fomos 11 amigos em 3 fuscas rumo a Recife!Levamos 1 mês para chegar porque fomos parando, acampando, desbravando!
Naquela época o sul da Bahia era inóspito, estradas de terra, vilas de pescadores paradisíacas e donas de PFs maravilhosos!
Sergipe me encantou com sua São Cristóvão, cidade histórica, cheia de cachoeiras onde tomávamos banho de biquíni enquanto os habitantes da cidade assistiam as cariocas lavando os cabelos com neutrox.
Alagoas com o mar mais lindo do Brasil, vilarejos, recantos, praias desertas espetaculares!
Porto de Galinhas, já perto do destino final da viagem, era deserto e o mergulho na barreira de corais inesquecível!
Já no Recife ficamos mais 1 mês, curtimos o carnaval de Olinda, o melhor que já fui!
Depois ninguém tinha saco pra dirigir de volta ao Rio, assim despachamos os fuscas repletos de artesanato até o teto numa cegonha e voltamos de busum!
Essa viagem não foi a primeira que fiz, mas ela é um marco na minha vida viajante e a mais deliciosa que já fiz! Talvez porque me lembre de um tempo leve e muito feliz da minha vida!