{Estrangeira #39} Desaguar antes ou depois
Estou no meu segundo avião do dia. Estamos nos últimos dias de férias escolares na Europa e os voos além de caros, estão lotados. Esse avião é diferente dos das low cost com as quais costumo voar. Ganhei água e chocolate. Tudo me parece estranho, como em um sonho.
Em Munique fiquei duas horas literais andando de um lado para o outro até dar a hora da conexão. Esqueci meu lanche na cômoda ao sair de casa e nesse aeroporto um iogurte com frutas e pão sai por €17,50.
Não estou chorando. Isso aconteceu também quando meu pai morreu. Eu voltava de bicicleta da aula de alemão quando recebi o único telefonema que recebi do meu padrasto em 13 anos morando fora do Brasil. Abracei a Ana que estava na minha casa. Procurei um voo. Minha amiga Raquel ajudou. Havia uma greve e eu tive que ficar em NY por um dia. Fui a High Line, sentei e senti tudo meio esquisito. Acho que forcei uma lágrima. Tirei uma selfie para me ver. Só chorei mesmo no Brasil. Em três semanas fazem 10 anos.
Agora ninguém morreu, mas a situação não é boa. Dessa vez transbordei por muitos dias e agora que me aproximo da minha amiga, não choro. Penso nas mãos dela, na sua voz e no seu companheirismo que não é só para mim, mas para toda a comunidade que ela criou e manteve melhor que qualquer pessoa que já conheci.
A vida é mais frágil que nós damos conta. Estar longe não é fácil, estar perto também não, mas é aonde pertencemos.
Essa semana não tem curadoria.
Carta da Raquel chegou na hora certa.