Sou uma pessoa com muitas ideias. Carrego comigo um caderninho, tenho conversa de WhatsApp comigo mesma para guardar ideias quando esqueço o caderninho. Caderninhos completos são revisitados de tempos em tempos e me alegro de ver ideias ali que se realizaram ou de relembrar pensamentos já distantes ou outros que ainda não mudaram nada. É bonito ver o que fica com a gente. Talvez até me ajude a filtrar um pouco dessa minha personalidade que adora flanar por aí.
Vi em um caderninho que quando morava em Berlim eu tinha a ideia, sem propósito algum de conversão, de visitar todas as estações de U-bahn e tirar uma foto da loja de conveniência (os famosos spätis) mais próxima. Não tinha razão alguma para isso, eu só gostava do desafio, da ideia de ter um projeto que coubesse no meu dia. Acabei não fazendo.
Quando me mudei para Portugal, me encantei com as casinhas da cidade. Há um ano tiro fotos das casinhas e guardo para nada. Em maio, durante um passeio guiado, o guia explicou que o evento anual em comemoração aos azulejos de Ovar também funciona como uma maneira das pessoas mais humildes se orgulharem de suas casas e do patrimônio delas. É um jeito delas darem valor para o que lhes é ordinário.
As ideias me vêm muitas vezes como raios. Saio para caminhar, vejo um negocinho e junto peças perdidas na minha cabeça, referências que não parecem ter nada a ver uma com a outra. Às vezes elas me vêm quando estou no banho ou lendo um livro, conversando com um amigo ou escutando os sonhos do meu filho.
Foi assim essa semana. Entendi que quando tiro foto das casinhas, exercito minha capacidade de me encantar com o cotidiano e valorizar o que está ao meu redor. A micro-aventura que cabe perfeitamente no meu dia-a-dia é caminhar pela minha cidade explorando vielas e vendo o que há de mágico nas suas casinhas.
É bom fazer algo sem um porquê. :)