Há uma região aqui no centro de Portugal que eu sou fã: Arouca. Montanhas mágicas e ainda não tomadas pelo turismo massivo compõem a paisagem deste parque geológico ao lado de fósseis do tempo que tudo era mar.
Logo antes do incêndio de setembro, decidimos fazer mais um bate-e-volta para esse cantinho que adoro. Achei no Google Maps uma parte que ainda não havíamos visitado: a Pedra Parideiras. Tinha um mini museu, animamos e fomos.
Chegamos em uma aldeia dessas antigas de pedra que tem por aqui no alto das montanhas. Logo uma senhora bem velhinha, toda de preto e com um lenço na cabeça adornando suas infinitas e perfeitas rugas apareceu na janela do carro perguntando se já tínhamos uma pedra. Ainda não sabíamos nada da pedra e lhe disse que antes queria ver o museu.
Pagamos para assistir o vídeo em 3D que explicava tudo sobre essa montanha mágica que eu ainda não fazia ideia que era mágica. As pedras paridas são raríssimas. Só se sabe hoje da existência delas ali em Arouca e em uma região próxima a São Petersburgo, na Rússia. As pedrinhas podem ter de um a doze centímetros de diâmetro e tendo a camada externa composta por biotite (mineral de aspecto escuro e brilho metálico) e a interna por um núcleo de quartzo e feldspato potássico.
Agora a mágica: a grande rocha de granito parideira esquenta com o sol durante o dia e se resfria à noite. Em algum momento, essa mudança térmica toda faz saltar da rocha a pedrinha parida. Sim, pequenas pedras simplesmente pipocam para fora da montanha! Segundo a tradição local, as pedras paridas devem ser postas debaixo do travesseiro para ajudar com problemas de fertilidade.
Saí do centro de interpretação animadíssima com essa história que me era completamente desconhecida. Subimos uma parte da grande rocha parideira e testemunhamos seus sulcos que demonstravam que ali pedras já haviam sido paridas.
Fui com meu filho mais velho caminhar pela aldeia deserta. Casas e mais casas de pedra, uma neblina presa nas montanhas ao nosso redor. Passamos por uma senhora lavando roupa em uma espécie de tanque comunitário também feito de pedra.
Bom dia vai, bom dia vem. Não me lembro mais o que lhe perguntei sobre a sua vida, mas eu tenho essa coisa que incita a partilha. Sempre foi assim. Soube da dificuldade de se chegar ao hospital e que lá eles plantam milho. Ela me perguntou se eu tinha uma pedra. Eu disse que não, que tinha acabado de aprender tudo sobre elas e que meu filho estava também muito impressionado. Ela contou que encontra as pedras pelo campo e disse que podia me vender uma, por “qualquer coisa, a gente não vive disso aqui não, mas achamos que mais pessoas podem querer”. Quis perguntar do que vivem, mas só disse que sim, queria.
Não quero mais filhos, mas a seguimos pela aldeia. Eu achava que estávamos a caminho da casa dela, mas me surpreendi quando paramos em frente a um pequeno quarto de arrumos feito, é claro, de pedra. Ela puxou um dos tijolos (de pedra) para fora, como se fosse uma passagem secreta e lá de dentro tirou duas pedras paridas como quem tira um segredo guardado a sete chaves e me entregou.
Mini curadoria semanal
Ainda estou vivendo a onda de ter publicado o “Passeio Maneiro: 52 Micro-aventuras Gratuitas no Rio de Janeiro”. Quer me apoiar? Compra o livro. Ele funciona quase que como álbum para colecionar experiências que vão transformar a sua rotina no Rio ao longo de um ano. Vai ser divertido brincar.
Adorei o centésimo episódio da Rádio Novelo Apresenta, um dos meus podcasts favoritos. A primeira história é sobre a travessia entre Colômbia e Panamá feita por imigrantes rumo aos Estados Unidos.
Estou um pouco obcecada com os relatórios do World Risk Report.
Acabei de colocar Arouca na minha lista de “lugares que quero conhecer ao redor do mundo”! 🌍❤️🪨
Adorei essa história das pedras paridas! Não conhecia. 😘