Eu não sou uma pessoa envergonhada, mas já fui e às vezes aquela vergonha que me tomava todinha acha um espacinho pouco vedado e me escapa para fora.
Lembro de ser uma criança grande, mais alta que as outras, sempre a última da fila. Eu era envergonhada e queria ser invisível, mas eu era grande e desajeitada e todo mundo me via. Quando comecei a escrever, minha letra era mini-micro como eu queria ser. As meninas mini-micro, duas Fernandas, iam no início da fila de mãos dadas com a professora. Eu e a Isadora revezávamos quem era a última.
Daí eu cresci, encontrei um lugar onde eu mais do que cabia, me encaixava. Quando a gente se encaixa em um lugar (e esse lugar normalmente são pessoas) a gente perde o medo de ser grande. Então eu não costumo ter medo de ser grande. Não tenho medo de dizer que não sei, que não quero ou que quero. Não é do meu costume, mas às vezes acontece.
O avô do meu marido foi um cara muito especial. Eu adorava o jeito animado dele e gostava de estar junto. Ele sempre queria me agradar, mas ficava confuso com vegetarianismo. Então enquanto todos comiam Bauernfrühstück, um negócio de batata com ovo e bacon, ele esquentava o chilli sin carne congelado que havia comprado no supermercado para mim. Eu odeio chilli e qualquer coisa apimentada. Eu queria o Bauernfrühstück feito em casa. Era só tirar o bacon, cara. Quando ele me perguntava se eu gostei do chilli sin carne, eu dizia que AMEI. Vergonha traiçoeira. Devo ter comido chilli sin carne umas mil vezes na casa dele e ele morreu sem saber que eu odiava.
Quando estávamos visitando apartamentos em Portugal, descobri um costume que abriu a brecha que a vergonha precisava. Ao final de cada visita, tínhamos que preencher uma ficha classificando o imóvel em excelente, muito bom, bom, mau ou muito mau. Também havia perguntas tipo “o que você menos gostou?”. Mano. Eu coloquei que tava amando tudo, né. Comi chilli sin carne congelado por anos, vou marcar muito mau na frente do proprietário aonde?
Daí que no fim descobri que era mesmo importante colocar a verdade porque este documento poderia servir para negociar o valor do imóvel depois. “Ué, você quer abaixar o preço? Mas marcou que a localização, luminosidade, acabamentos e estado geral são excelentes”. É, Senhor Miguel, mas você estava igual uma mãe de filme americano checando dever de casa enquanto eu estava preenchendo essa bagaça.
Vocês também têm disso?
Mini curadoria semanal
Finalmente comecei a ler O Lado Sombrio dos Contos de Fada da Karin Hueck e é do cacete. Uma leitura gostosa que explora as origens dos contos de fada mais conhecidos.
A minha amiga Marcia Bellotti é uma artista visual incrível e lançou um programa de residência artística no seu espaço em Barcelos. Uma casa rural com ateliês para diferentes finalidades e mentoria no norte de Portugal.
Assisti a primeira temporada de Ruptura na Apple TV e fiquei muito bolada. Uma distopia daquelas que deixa a gente super desconfortável e acaba desesperadoramente. Ainda bem que a segunda temporada já sai em janeiro.
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Muito bom! Kkkkk eu também passo e passei a vida toda por situações como essa. Hoje já mais velha nem tanto, acho que com a idade você perde a vergonha de desagradar e o medo de ser excluída. A análise também ajuda muito porque te leva ao autoconhecimento. Enfim, você não está sozinha nessa não! 😘