Tenho um pouco de vergonha em admitir, mas só soube quem era Chico Buarque já com 18 anos. Foi um namorado mais velho que me falou dele. Não existia redes sociais, não existia Spotify. A gente sabia de música pela família e pelos amigos e na minha casa não tinha CD do Chico Buarque. Depois até descobri um vinil arranhado, mas não tínhamos mais vitrola.
Na escola, aprendemos sobre a Tarsila do Amaral e umas poesias velhas, alguma literatura clássica que não entendíamos, mas não aprendíamos sobre música. Eu escutava Antena 1 no carro com meu pai e na casa dele os mesmos CDs: o do Tom e da Elis, o do filme Grease e o do filme Filadelfia. Na casa da minha mãe, ouvia na sala, aquela sala enorme e cheia de enfeite, os CDs todos do Legião Urbana.
Devorava os encartes dos CDs brasileiros, decorando as letras todas. Foi assim que aprendi a cantar a interminável Faroeste Caboclo e Águas de Março. Como não morava com meu pai, ele fez uma cópia do encarte para mim no trabalho.
Adolescente eu curtia mais punk rock, emo e indie. Foi nessa ordem. Tudo gringo e descoberto pelos amigos alternativos. Já falava mais inglês e ficava decorando as letras na escola, passando a limpo em outro papel.
Foi assim que com 18 anos eu não conhecia Chico Buarque, mas a faculdade de Comunicação mudou isso. Estudamos até videoclip de Chico Buarque cruzando com texto de Walter Benjamin e lemos Budapeste. Aprendi sobre música, cinema e literatura brasileira contemporânea. Contemporânea na época, né, há 20 anos.
Queria ter aprendido essas coisas na escola. Me pegava muito minhas amigas europeias que sabiam tudo da cultura delas. Grandes pintores, música, tudo. Eu só sabia cantar Águas de Março, Faroeste Caboclo, de Weezer, Dashboard Confessional e um pouco de Radiohead e Los Hermanos. Na escola sinto que só aprendi umas coisas sem pé nem cabeça (log?) e muita história medieval que não explicava nada do povo brasileiro.
Essas coisas segui aprofundando depois da faculdade, já morando fora do país. Passei a me interessar sobre livros que explicavam a colonização das Américas de um jeito que não passava pano na escravatura nem no genocídio dos povos originários. Aí vieram os shows. Comecei a ir em tudo que podia. Foi em Berlim que vi Emicida, Elza Soares, Caetano Veloso e Seu Jorge. Vi coisa gringa também, The Cure, Green Day, Morrissey e até Madonna, mas mano, não tem nada como a nossa música, a nossa história.
Me pergunto se hoje ensinam isso nas escolas. Se não ensinam, se os pais no Brasil ensinam. De onde viemos e quem somos. Porque quando a gente vê de fora, é fácil ver e ensinar sobre a beleza do nosso povo, da nossa festa e, honestamente, de tudo que a gente faz.
Gostei de saber que O Avesso da Pele faz parte do currículo escolar. Longe de mim ser patriota, cruzes, mas eu só aprendi a vibrar o Brasil depois que me afastei dele, depois que me acenderam a faísca da curiosidade na faculdade. Não chorei quando o Senna morreu, vi a copa de 94 na colônia de férias e não entendia aquele envolvimento todo de quem assistia. Ninguém me ensinou o nosso valor.
Hoje, tô quase tatuando a cara da Fernanda Torres na testa, saio por aí usando a camisa uniforme da Rayssa Leal e mês passado fui até ver a peça do Gregório Duvivier no Porto sobre a língua portuguesa.
O Brasil presta demais, bicho.
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Saiu minha coluna no Euro Dicas sobre fazer amizades morando fora.
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Achei Os Trapalhões na Terra dos Monstros para assistir online. Sim, aquele com a Angélica e os monstros da Pedra da Gávea.
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