No primário, lá no início dos anos 90, toda criança que se prezava tinha uma mochila emborrachada da Company. Era uma mochila cheia de zíper, meio horrorosa, mas que hoje seria um artigo hipster descoladinho, irônico. Vinha em várias cores.
Também era legal ter o chinelo da Company, o estojo da Company, etc. Em algum momento a Company sumiu, mas uma pesquisa rápida na web me mostra que ela não morreu (e agora eu quero uma mochila da Company, socorro). Enfim, eu sei que no meu auge do primário, aos 10 anos, eu já estava de olho na próxima mochila cool.
A mochila jeans da Cantão.
O negócio é que eu tinha uma crença maluca que só crianças da 5a série podiam ter mochilas jeans da Cantão. Quinta série já era ginásio e ginásio já não era primário e isso fazia ter 11 anos e começar a 5a série, um momento transformador de entrada na maturidade. Um momento merecedor de uma mochila jeans da Cantão para ser usada com alças bem longas penduradas em um ombro só. Símbolo do verdadeiro espírito cool apenas alcançado a partir da 5a série.
Segundo as vozes da minha cabeça, é claro.
Então eu esperei e, quando finalmente me tornei merecedora da mochila jeans da Cantão, percebi que a 5a série era a série mais baixa do ginásio e a gente ali não era nada cool.
Por que raios eu não pedi uma mochila jeans da Cantão na 4a série? Pelo mesmo motivo que eu não compro nada que acho bonito nos outros. Sempre acho que não sou cool o suficiente, mas que a minha hora vai chegar (só não é hoje). Teve apenas um breve momento, nos meus primeiros anos em Berlim, que eu fui totalmente autêntica no que queria vestir. Um lindo momento onde me considerei merecedora das roupas que eu achava legais.
Lembro de um dia que um cara me puxou pelo meu quimoninho em um bar em Berlim e eu fiquei meio com nervoso de usar meu quimoninho de novo, mas se for ser bem honesta, acho que essa perda da autenticidade teve mais a ver com a tal da maternidade. A gente fica com o corpo esquisito e não pode usar brinco pra não perder a orelha, a parte de cima tem que ser fácil de botar a teta pra fora e de repente você tem um monte de roupa do antes e do depois.
Quando me mudei para Portugal dei 99% das roupas de antes. Foi um momento de coragem insana. Roupas que nunca mais caberão em mim e que entupiam meu armário. Roupas que já não tinham a ver com quem sou hoje, mas que também me lembravam de quando eu era mais corajosa em me expressar para o mundo. Não aguento mais camisetas pretas em uma cômoda tipo o armário da Mônica com seus vestidos vermelhos.
Voltei a usar brincos. Só no primeiro furo. Eu tenho cinco furos em cada orelha. E comprei uma mochila da Carhartt que uso nos dois ombros bem em cima da bunda.
Um passo de cada vez.
Mini curadoria semanal
Escutei a segunda temporada do podcast da BBC (em inglês) World of Secrets. Essa temporada é sobre uma seita de yoga mucho loca que prostitui mulheres em busca do desenvolvimento espiritual.
Comprei um audiolivro (mas tem a versão física e Kindle também) e comecei a escutar hoje, então ainda não posso dizer que é fantástico, mas está indo bem. Uma das autoras é a Annabel Streets e o livro compila um monte de pesquisa séria sobre como envelhecer bem. Tô curtindo. Age Well.
Tenho um jogo de perguntas e respostas para fazer com crianças que meu filho de 6 anos AMA. Tenho levado para todo lugar que envolve espera com ele. Existem vários do tipo, como este aqui.
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Comprando meu novo livro Passeio Maneiro: 52 Micro-aventuras Gratuitas no Rio de Janeiro. Este é um livro interativo e um ótimo presente para cariocas que querem começar 2025 dando passos para sacudir a rotina e se encantar com o que existe na porta de casa sem gastar um tostão.
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Comprando minhas fotos.
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Eu tive a mochila emborrachada da Company! Minha irmã tinha a jeans! Uma febre no Rio de Janeiro! Dentro ia, tipo, a pasta da YES, e todas as outras coisas cool da época, tipo estojo de lata, fichário, etc.
Agora estou aqui, no auge de meus 40 anos, sofrendo todas as crises a que tenho direito. Por muito tempo, não comprava as coisas por não me sentir cool. Depois passei a comprar, mas não usava: fica guardando para uma ocasião especial, um futuro utópico, que nunca chegava - até as coisas estragarem por falta de uso, por não caberem mais: e eu jogar tudo fora sem nunca ter usado...
Só agora me dou conta de que não posso mais fazer planos para o futuro. Eu já estou no futuro. Demorei 40 anos para entender que só existe o presente. Agora estou aí, recomeçando a vida, revendo conceitos...
Temos que comprar uma mochila da Company e sair juntos!