Comprei uma passagem pro Brasil. Sou do Rio e dia desses estava treinando com o meu mais velho “coé, mermão!”, mas só saía “coé, meu mermão!” ou “coé, meu irmão!”. Tudo com aquela porra daquele R de alemão que eu nunca aprendi a fazer.
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Foi quando a M. foi hospitalizada que comprei uma passagem para o Brasil. Entrei em uma que a gente nunca sabe o dia de amanhã e que minha gente, meus amigos mesmo, estão lá. Consegui organizar uma tour da amizade entre Rio e São Paulo, porque a M., a quem eu me referia como Barsa, sabia de tudo e era assim que ela vivia.
A Barsa, além de responder todas as minhas perguntas e identificar todos as fotos de insetos que eu lhe mandava, era uma amiga daquelas que a gente sempre pode contar. Raramente se envolvia em treta e sempre tinha tempo para os amigos. O circo pegando fogo e ela pegando uma caipirinha. Ela tinha amigos por tudo que é lugar e vivia assim, visitando um por um, passando tempo de qualidade com todo mundo.
A Barsa tirava tempo para as pessoas do cu, porque além de ser uma excelente amiga para um mar de gente, a Barsa também foi uma puta cientista. Me desculpe os fãs, mas eu tenho pavor a São Paulo. Então quando a Barsa se mudou para lá, eu nunca visitei. Ela ia me encontrar no Rio, passou uma semana conosco em Paraty e até uns dias em Berlim. Compartilhamos a vida no Rio e no tempo da Alemanha, mas eu nunca fui na casa que ela morou pelos sete anos e essa falta eu nunca vou recuperar. O que vou fazer é ter a honra de presenciar a inauguração de um jardim em homenagem a vida dela e a homenagear essa vida visitando quem, assim como eu, ficou para trás.

Tudo isso para dizer também que estou apavorada. Desde que virei mãe, ir para o Brasil acompanha também um pacote de ansiedades. Não são só meus filhos e marido que têm pinta de gringo: eu também tenho toda uma vibe gringa agora. Ou seja, não tem um pra salvar o quarteto.
Apesar de me achar super carioca na Europa, quando chego no Rio o contraste da realidade de quem sou hoje fica claro, ofuscante. Daí que carrego no sotaque, ando com um gingado forçado e uso muito mais gírias de costume. Na rua, faço isso tudo bem alto para ninguém ter dúvida e me cobrar mais caro na areia. Sou carioca, caralho. Cada vírgula, um palavrão.
Mas tudo soa como “coé, meu mermão!” com R alemão. Não me sinto mais à vontade nas ruas que naveguei tranquila por mais de vinte anos. Evito shopping ao máximo, não piso nem pelo ar condicionado. Tem bronze de fantasma. Não sei o preço justo por uma cadeira. Gringa, ‘sa porra.
A Barsa tinha um sotaque neutro nascido de alguns anos em Campinas, alguns no Rio, mãe do Piauí e pai da Inglaterra. E eu tô que nem o sotaque da Barsa: de lugar nenhum, mas com um pezinho em tudo que é lugar.
Mini curadoria semanal
Essa entrevista (antiga) com a Socorro Acioli.
Amamos a coleção de livros Gente Pequena, Grandes Sonhos com biografias de grandes personagens da História contemporânea para o público infantil.
Terminei o Via Ápia e quis voltar aqui para dizer que é mesmo muito incrível. Daqueles livros que fazem a gente perder a hora.
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É uma linda homenaguem a Mari !
Não fica com medo ,o Rio está lotado de turistas.
Prazer em conhece-la Roberta.
Amo meu Sampa
Discordo de tudo que ocorre aqui.
Mas daqui não saio, vou passear claro.
Meu São Paulo, terra da garoa! (agora do Sol)
Já não existe mais...
Mas Paulistanos gente boa ainda somos maioria.
E não desistimos nunca, somos o motor deste país.
Se um dia vier para cá, te convido a comer um virado a paulista no Mercadão.