{Estrangeira #63} Sobre propósito e ansiedades

Eu sou meu maremoto e também a equipe de resgate.

Sou fanática pelo próximo passo. Passo horas matutando sobre o depois. Planejo fins e possíveis recomeços. Imagino cenários possíveis e impossíveis.

“Você às vezes imagina uma conversa todinha com alguém? Adianta possíveis discussões dentro da sua cabeça?”

Perguntei isso para uma mulher que conhecia. Ela disse que não e sugeriu que talvez eu devesse me tratar. Achei exagerado, mas me surpreendeu ela não se identificar. Adiantar tretas na cabeça não é algo generalizado?

Gosto de ter um norte, um manual do que fazer em caso de emergência. E se o fogo chegar aqui? O que eu faria se viesse um maremoto? Os apocalipses imaginados mais comuns são mais simples, muito mais.

E se eu perder minha maior fonte de renda? E se o Brasil ficar inabitável? Se eu morrer, o que acontece com meus filhos? Meu marido tenta, mas não consegue pentear o cabelo da menina direito. E se nós dois morrermos? E se alguém lá no Brasil ou Alemanha morrem? Já me adianto em sentimentos, me familiarizo com tristezas antes delas chegarem. Quero estar pronta.

Meus filhos sabem viver o momento como ninguém.

Colocar a carroça na frente dos burros já me ajudou, mas também atrapalha demais. Questionamentos sobre propósito e legado para a humanidade me assombram e me desviam do presente. Não me prendo aos planos, mas me conforta e me aflige ter algum prumo. Ou me confortava. Talvez agora só me aflija mesmo porque cada vez mais sinto a necessidade de colocar a carroça atrás dos burros e olhar a paisagem. Perder o prumo sem ficar totalmente à deriva.

Sabe? Parar de correr atrás da próxima coisa imprevisível ou inconsertável. Meu maior medo é deixar a vida passar em branco, mas se passo o tempo que tenho agora, o tempo que é certo, pensando na próxima atividade ou no próximo jeito de encher a vida de segurança e significado, a vida fica bonita no papel, mas a alma fica um pouco em frangalhos, né não?

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Mini curadoria semanal

Eu amo a Elisama Santos. Consumo tudo que ela faz. Essa semana escutei uma entrevista dela e resolvi pegar o primeiro livro da diva para reler. Educação Não Violenta é uma leitura fácil, curta e fluida que acolhe e ajuda cuidadores de crianças de todas as idades.

Gostei da news da Laís Schulz, Além da Linha.

Apaixonada pelo documentário sobre o Jacques Costeau da Nat Geo (vi na Disney+). Como faz para ser o JC?

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