{Estrangeira #64} Entrudo de Lazarim
Uma festa tradicional para você que não curte Carnaval
Como toda festa patrimonialmente interessante na Europa, o Entrudo costumava a ser uma expressão popular pagã e foi absorvida pelo cristianismo tendo seu significado deliberadamente deturpado. Em outros tempos, representava a entrada na primavera, o equinócio. Hoje, o Entrudo é a entrada na Quaresma ou o fim do Carnaval.
Eu não gosto de Carnaval. Não quero ser do contra, até que eu tentei, juro. Sou carioca, né? Fui nos blocos, fiz a coisa toda. Acho um saco o calor, a troca de suor, o andar sem rumo e, pior de tudo, sem lugar pra fazer xixi.
A cidade onde moro em Portugal gosta de imitar o Carnaval do Brasil. Acho um saco, mas criança gosta de se fantasiar então eu até que tento um pouco por eles, mas não me animo nada.
Daí que este ano tentei algo diferente. Soube dos Entrudos ano passado, já em cima demais para ir testemunhar alguma festa dessa então esperei. Várias cidades em Portugal têm seu próprio Entrudo, cada uma do seu jeitinho. Todas envolvem máscaras tradicionais feitas do que quer que a localidade tenha se especializado com o tempo.
As máscaras representam valores básicos da sociedade que se misturam com o imaginário fantástico local. São monstros e criaturas inventadas. Muita coisa de diabo, claro. No meio de tudo umas freiras e padres com máscaras de demônio, mas no geral as roupas dos mascarados são mais, digamos, típicas. Em Podence os caretos estão cobertos de franjas amarelas, verdes e vermelhas. Em Lazarim, onde fui este ano, os mascarados usavam também roupas de materiais naturais como folhas, flores e palha e as máscaras eram todas feitas de tronco de amieiro.
Chegamos na cidade ao som de tambores enormes meio à uma procissão de mascarados e um casal sem máscaras. Ao final da procissão, os dois desmascarados sobrem ao palco e começam algo como uma competição de versos. É uma disputa entre sexos através do testamento dos compadres e o testamento das comadres. A ideia é que os mascarados sejam todos mulheres e homens solteiros. No fim de tudo queimam um boneco e todos comem a feijoada preparada na rua.
O Entrudo de Lazarim é considerado por muitos o Entrudo mais autêntico de Portugal. Na aldeia há também um centro interpretativo da festa que é aguardada e planejada durante todo o ano pelos seus moradores. É aquele momento em que a cidade se torna, de repente, gigante e aberta.
Talvez eu possa sim gostar de Carnaval.
Mini curadoria semanal
Gostei desses tutoriais de avião de papel que o Tiago do Tira do Papel indicou esses dias.
Seis minutinhos sobre a criação do Dia da Mulher. Se você me desejar FeLIz dia da mulher, eu vou mandar você tomar no cu.
Há alguns anos que a minha amiga Cecilia nos deu o livro O Pequeno Príncipe Preto, mas foi só recentemente que meu mais velho chegou no ponto de curtir. Eu amei demais essa versão.
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