Dizem que devemos esperar três meses completos de gestação para contar por aí o que está acontecendo. Perdas gestacionais são muito comuns até a décima segunda semana e a ideia por trás dessa “regrinha tolinha” é não ter que decepcionar todo mundo com uma perda, não colocar olho gordo na gestação e não ter que se chatear ligando para todos os amigos e familiares para avisar que não deu certo.
O que a gente não se liga é que, caso a perda ocorra e tenhamos mantido o segredo, não haverá ninguém ali para segurar a nossa mão. Não tem ninguém compartilhando esta perda conosco porque é muito diferente viver uma perda quando nem tivemos tempo de processar a alegria da possibilidade. É um luto isolado e todo mundo sabe que o luto deve ser partilhado.
Sim, sempre vai ter um querido sem noção que vai dizer a coisa errada nessa hora. Não nego que vai doer, vai sim, talvez até te rasgue no meio. Mas a sua galera em grande parte vai te acolher e, acredite, você vai precisar. Mais do que precisar da sua galera, você vai precisar das suas quengas: aquelas mulheres com as quais você escolheu dividir a vida.
O mesmo vale para a história do olho gordo. Sempre vai ter um arrombado que vai saber das suas vitórias e vai desejar a sua queda, porém acredito que em grande parte as pessoas ou se sentem orgulhosas pelas vitórias dos outros ou no mínimo sentem-se inspiradas. Chamem-me de romântica, mas penso mesmo que isso seja verdade e foi um aprendizado que tive após perder duas gestações em seis meses. A gente costuma querer o bem do outro.
Outra coisa que estas perdas me ensinaram foi que ninguém fala(va?) disso. Eu tenho a sorte de ter um traço de personalidade que me motiva a falar abertamente sobre quase tudo e isso me levou a descobrir que haviam muitas mulheres ao meu redor que já tinham sofrido perdas parecidas. Assim, muitas MESMO. Quase todas passaram por isso sozinhas ou apenas com seus parceiros. Nós precisamos de mais pessoas para compartilhar a vida. Os desesperos, mas também as vitórias.
Eu não quero ver a sua vitória em um story de Instagram depois que tudo já foi concluído. Me conta seus sonhos e suas pequenas conquistas. Me manda um zap, pô. Quero viver isso contigo. Gosto até mesmo de ver as conquistas de gente da internet. Me orgulho de um povo que nem nunca vi, mas que transparece suas vitórias. Uma vítima do storytelling? Talvez. Mas vai dizer que você não curte ver alguém feliz porque conseguiu mudar de hábitos, largar vícios, comprar aquela sonhada câmera, trocar de carreira ou fazer aquela sonhada viagem? É bão d+++ ver alguém feliz!
Estamos tão condicionados a falar de algo só quando dá certo ou dá errado que perdemos a chance de dividir a jornada com outras pessoas. Perdemos a chance de ouvir e de aprender com elas também. Então digo, com grande emoção, que em pleno mercúrio retrógrado, desafiando os céus, estou comprando uma casinha de pedra no pé da Serra da Estrela em Portugal.
A ideia é fazer uma renda extra com ela, mas meus sonhos vão longe e acho que ainda vou compartilhar muito deles por aqui. Estou tão feliz que estou conseguindo realizar esse sonho, mas claro que pode ser que tudo vá por água abaixo, sempre há esta chance e eu vou ficar triste. Triste mas certa que não foi nenhum olho gordo e de ter um monte de mãos prontas para me reerguer.
Com carinho,
Rô
Mini curadoria semanal
Amei esse episódio do Mamilos com a Bianca Santana. Que mulher!
Li Cem Anos de Solidão no fim da adolescência e vendo a série (finalmente) da Netflix, percebi que não lembro de quase nada. Aliás, puta série. Vejam e vejam muito! O livro, tenho que reler.
Assinei a news da Rafaela Carvalho e ela não decepciona, né?
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Sempre escutei a respeito dos 3 meses e do silêncio durante o período como uma forma de evitar situações constrangedoras em caso de aborto (sem falar no olho gordo), mas nunca pensei a respeito do luto isolado. Ajuda muito ter com quem compartilhar a perda. Espero que você tenha tido uma boa rede de apoio nesse momento. Abraços virtuais
Parabéns Roberta!!! Pelo lindo texto e especialmente pela casinha! Fiquei fascinada com a localização e esse Siri arqueológico tão perto! E a casinha hein? Casinhas de pedra são um sonho, uma graça! E me trazem a lembrança histórias da infância que a babá portuguesa do meu pai contava.
Espero que dê tudo certo e que então eu possa conhecer, mesmo que por fotos, a sua casinha no pé da serra.
Beijocas