Há uns dias li um post interessante no LinkedIn questionando a autenticidade do turismo que me colocou para martelar um pouquinho o tema. A autora propôs que a autenticidade no turismo seria apenas mais uma forma de consumo (e ela não está errada).
Há uns meses, estive no Porto com meu filho e vi uma dessas lojinhas que vendia lembrancinhas made in China pelo modesto valor de um rim e duas córneas. Soltei um comentário “lojinha engana turista” e me vi presa em uma série de explicações intermináveis para a mente literal do meu menino de seis anos.
Voltando para o papo da autenticidade no turismo, não nego que seja uma forma de vender sonhos e viagens, mas também acho que é possível viver experiências mais autênticas mesmo sendo de fora. Não é porque alguém de fora chegou ali que aquela vivência virou uma performance.
Digo “de fora” e não “turista”, porque turista remete muito àquele cara que participa do turismo de massa (nada de errado com esse cara). Também não gosto mais de falar “viajante” porque me parece pretensioso e arrogante demais. Quem fala viajante costuma a ser aquele tosco que acha que transcende a experiência do turista. Não é porque turismo de massa é ruim para a sociedade e o patrimônio que a pessoa não pode ser feliz fazendo isso. Muito do problema do turismo de massa tem a ver com a dificuldade de acesso a outras experiências.
Enfim, perdi o fio aqui.
O post me fez pensar que um lugar ou uma experiência são autênticas quando são compartilhadas ou criadas pelos locais. Uma lojinha engana-turista como a que vi com meu filho não é autêntica. Mas a loja ao lado com produtos de couro feitos a mão por mulheres do Porto é. O Portão de Brandenburgo em Berlim é um marco histórico, porém não é mais um local autêntico (a não ser em dias de protesto). A gente sabe quando entrou em um restaurante para inglês ver e quando entrou em um local cheio de gente dali.
Você não precisa ser o “viajante” pioneiro e descolado para viver uma experiência verdadeiramente autêntica (isso talvez até seja uma visão bem colonial do turismo, não é?). Não precisamos cair nesta armadilha de consumo para vivermos experiências culturais imersivas. Tudo bem conhecer Paris se você quer conhecer Paris. Tem lugares que não dá mesmo para fugir das massas, mas podemos salpicar nossa experiência com temperos de autenticidade aqui e ali. Um passeio à pé com um especialista local em comida de rua ou uma visita a uma galeria de arte de artistas emergentes podem acrescentar autenticidade nos mais sufocantes dos destinos.
O importante é lembrar que a autenticidade vem principalmente das pessoas. O que você acha?
Mini curadoria semanal
Sou uma grande fã do patrimônio brasileiro conhecido como Senhor Doutor Divo Drauzio Varella e, na minha busca por uma vida mais saudável, caí neste vídeo aqui.
Obcecada pelo divertido The Studio com Seth Rogen na Apple TV.
Saiu um texto meu no Euro Dicas Turismo sobre expectativa versus realidade em viagens.
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Tenho pensado sobre isso. Pq tem taaaanto lugar que não conheço e ainda gostaria de conhecer, mas ao mesmo tempo não tenho a menor vontade de ir aleatoriamente para países para seguir roteiros turísticos. Parece que preciso de uma desculpa maior para ir a um destino, que não seja só "turistar". Também me incomoda ser de fora em lugares que tratam tão mal turistas, isso me incomodou muito em uma última viagem a ponto de ter receio de ser uma pessoa vista como turista. Mas ao mesmo tempo, não quero me limitar e não conhecer outros países por conta disso....enfim, entrei em um looping....
sem ser /bem/ sobre o que você está falando, mas sem não-ser sobre isso também, me lembro sempre daquele artigo "a supposedly fun thing i’ll never do again," do david foster wallace, que é muito-muito bom, e que em algum momento, sobre turismo de massa, conclui que (disclaimer: meio forte):
"To be a mass tourist, for me, is to become a pure late-date American: alien, ignorant, greedy for something you cannot ever have, disappointed in a way you can never admit. It is to spoil, by way of sheer ontology, the very unspoiledness you are there to experience."
tem algo disso, né. alguns turistas destroem o lugar que querem visitar, porque promovem esses espaços nao-autenticos, e alimentam eles, até eles devorarem os espaços autenticos, e entao sobra só esse simulacro de destino