{Estrangeira #70} O que a maternidade me ensinou sobre o amor
Eu não entendi logo de cara o amor pelo meu filho. Você já deve ter ouvido falar que às vezes o amor pelos filhos é construído, não vem instantaneamente. Eu mesma repeti muito isso, mas hoje acho que isso não foi exatamente o caso.
Com meu primeiro filho eu apenas não entendia ainda aquele amor. Era algo totalmente novo e eu precisei de uma situação bem específica para me sacudir e fazer a ficha cair. Ele tinha dois meses quando nossa gata o arranhou e eu me vi metamorfoseando de pessoa para loba.
Quando a minha filha mais nova chegou, o amor veio logo na lata. Além de um parto bem menos traumático, eu já conhecia esse tipo de sentimento então foi mais fácil entender o que acontecia dentro de mim.
E o que acontecia era o tal do amor incondicional. Eu achava que entendia o que isso era, mas descobri que entendia era nhecas de pitibiriba.
Precisei de tempo para processar, mas a verdade é que a gente passa a vida toda buscando esse amor incondicional em outros lugares. Lugares onde não iremos encontrá-lo.
Alguns sentem falta do que receberam na infância, outros do que nunca receberam. Aí ficamos o resto da vida projetando esse desejo de sentir-nos seguros em uma relação como nos sentimos lá atrás. Ou como deveríamos ter nos sentido.
Viramos presas fáceis para contos de “o amor supera tudo” ou “o amor é para sempre” ou “quem ama perdoa” ou “o amor cura todas as feridas” e mais um monte de bobagens que nos fazem acreditar que relações abusivas ou apenas tristes valem a pena.
A verdade é que amor incondicional mesmo é só o que sentimos pelos nossos filhos. Mesmo que destrutivo, o resto é feito de escolhas e deveria sempre ter condições.
Até mesmo o amor do filho pelos pais deve ser condicional. Essa carga de perdoar qualquer tipo de desrespeito e opressão por um laço familiar é uma herança cultural que nos pressiona a agir de uma maneira desrespeitosa com nós mesmos. O amor fora da parentalidade só existe como expressão de uma relação saudável.
Quanta vida é desperdiçada em relacionamentos tóxicos porque escolhemos honrar o passado, compromissos feitos em outras circunstâncias ou laços familiares acima do nosso próprio bem-estar?
Quando eu compreendi o que sentia pelos meus filhos, me senti boba de buscar isso em outro lugar por tanto tempo. O que eu poderia ter buscado era um amor incondicional por mim mesma. Essa sim é uma utopia pela qual vale a pena lutar.
O resto dos amores é feito de escolhas e do cultivo diário de relações de duas vias. Foi isso que eu aprendi sobre o amor nos últimos anos e é assim que eu tenho me libertado.
Beijo,
Roberta
Lindíssimo! Me identifiquei em cada palavra 🌻
Que texto lindo (e tão verdadeiro) <3