Confesso que só virei fã do poeta Emicida mesmo depois de ir em um show dele. Saí embasbacada, impactada, de peito rasgado. Ontem me peguei cantando Passarinhos (Passarinhos / Soltos a voar dispostos / A achar um ninho / Nem que seja no peito um do outro) e aí a cabeça vai, né. Tem tanto ninho feito no meu peito que nem sei. Tantos corações soltos por aí nesse mundão.
Ontem foi aniversário da Mari, a pessoa que mais cultivava amizades que eu tive a honra de conhecer na vida. Fez ninho em um montão de gente em várias partes do mundo. Em abril fui, junto com uns 20 desses amigos, ao Parque Estadual de Intervales para plantarmos um jardim em sua homenagem.
O primeiro jardim de interações a céu aberto do Brasil era um sonho dela. É que além de uma amiga perfeita, ela foi uma cientista fantástica. Carinho e amor viajaram horas e horas para ver o trabalho que ela tanto se dedicava e inaugurarem juntos o Jardim de Interações Mariana Alves Stanton. Revi velhos e novos amigos. Ela teria amado esse encontro. Todo mundo ali plantando por ela.
As passagens foram compradas em agosto do ano passado quando ela ainda estava na UTI em Berlim. Comprei uma para vê-la e outra para ser boa como ela e viajar o mundo vendo a minha gente. Foi uma viagem inteiramente dedicada a ser um pouquinho mais Mari e foi a melhor visita que já fiz para o Brasil desde que saí de lá há quase 14 anos. Foi uma peregrinação da amizade.
Não há nada como os amigos que cultivamos na adolescência ou infância. Gente que testemunhou nosso processo, que já provou nos amar nos nossos momentos mais fracos e nos momentos mais fortes. Gente que não precisamos ter medo de sumir por 2 anos e ressurgir como se nada tivesse acontecido pelo simples fato que nada mudou e nada nunca mudará.
Em seu livro Cem dias entre céu e mar, Amyr Klink diz que não se sentiu solitário nem lá no meio do Atlântico. Rodeado de lembranças da sua gente naquele barquinho à remo, ele sempre se sentiu acolhido. Uma mensagem à lápis no teto do barco, a lembrança do outro que ajudou nos preparativos da expedição e até um pôster escondido no cardápio número 100 deixado pelas amigas o faziam sentir o calor daquelas conexões nas noites mais frias. Ele escreve:
Um estado interior que não depende da distância nem do isolamento, um vazio que invade as pessoas e que a simples companhia ou presença humana não podem preencher, solidão foi a única coisa que não senti depois de partir. Nunca. Em momento algum. Estava, sim, atacado de uma voraz saudade. De tudo e de todos, de coisas e pessoas que há muito tempo não via. Mas a saudade às vezes faz bem ao coração. Valoriza os sentimentos, acende as esperanças e apaga as distâncias. Quem tem um amigo, mesmo que um só, não importa onde se encontre, jamais sofrerá de solidão; poderá morrer de saudades, mas não estará só.
Diferente do Amyr, eu passei anos e mais anos sem sentir saudade. Até agora. Desde a partida final da Mari, tudo que faço é sentir saudade. Dela, dos outros. Os amigos no Rio, em São Paulo, Paraty, Floripa. Chile, Berlim, Austrália, Lisboa e todo tipo de lá-na-puta-que-pariu.
Não estou só. Pouco a pouco crio um pouco de gente minha aqui também, mas não apaga a saudade avassaladora da minha gente e da minha terra. O coração do imigrante é rasgado para poder se esticar e alcançar o tanto de amor que deixa por aí.
Emicida também canta:
Quem tem um amigo tem tudo
Se o poço devorar, ele busca no fundo
É tão dez que junto todo stress é miúdo
É um ponto pra escorar quando foi absurdo
Quem tem um amigo tem tudo
Se a bala come, mano, ele se põe de escudo
Pronto pro que vier mesmo a qualquer segundo
É um ombro pra chorar depois do fim do mundo
Essa semana tive uma emergência e sem pestanejar soube para quem ligar para ficar com meus filhos. Isso é ouro. Ter a quem cuidar e ter quem nos cuide. Mesmo que cuidar seja encontrar para dar risada ou mandar um oi, sumida no zap.
A vida não é útil, mas a gente devia gastar nosso tempo aqui fazendo ninho no peito um do outro.
Mini curadoria semanal
Escutando Emicida, né. Muito. Escutem tudo e vejam o documentário AmarElo - É tudo pra ontem na Netflix.
Crianças viciadas em O menino que coleciona guarda-chuvas.
Amei o episódio da Rádio Novelo Apresenta Cada um com sua bússola.
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