Acho que minha obsessão com legado veio junto com os filhos. Sempre criei coisas — livros, fotografias, projetos — porque tinha uma ideia e precisava fazer que tomasse vida. Não sei porque escrevo isso no passado, ainda funciona assim.
Os filhos fizeram meu tempo criativo se reduzir e acho que a história do legado me ajudou a selecionar quais ideias iriam tomar vida porque eu simplesmente não dou mais conta de sair realizando tudo que escrevo no meu caderninho de ideias.
As metas de Ano Novo se tornaram mais enxutas. Ano após ano, tento selecionar coisas que vou dar conta de terminar. Já pensei muito em propósito também. Deixar um legado que case com meu propósito seria nota 10.
Só que esse ano tudo começou a desmoronar.
Foi assim: ano passado fui, pela primeira vez, tomada por uma intensa ansiedade climática. Onde investir meu futuro de modo a construir um legado para meus filhos que não seja levado por enchentes, elevação do nível do mar, incêndios, um calor inabitável, uma coisa meio Water World ou um desses filmes pós-apocalípticos no deserto global, se tornou A pergunta que ecoava na minha cabeça sem trégua.
Não que eu soubesse meu propósito ou qualquer coisa assim. Também não é como se eu fosse fazer algo insuportável para mim no presente só para manter uma ideia de legado. Passei minha existência toda construindo uma vida bem vivida nos meus próprios termos e isso não vai mudar agora. Só que eu queria fazer a coisa certa para os meus filhos terem uma chance boa na vida. Bem, ainda quero.
A Marina, uma amiga muito paciente, me disse qualquer coisa de um jeito que nem sei mais como foi, mas que deu aquele clique.
Eu não podia mais tentar controlar todas as variáveis e deveria fazer o melhor por nós com o que tenho HOJE.
Isso ajudou, mas não aquietou o lance do legado, do propósito e essa coisa toda. Até que leitura vai, leitura vem, papo aqui, papo ali e outro clique veio: A VIDA NÃO TEM PROPÓSITO.
Damos tanto peso para os sistemas que nós mesmos criamos (escola, faculdade, emprego, status, etc) que esquecemos que a verdade mais pura é que precisamos de bem pouco: rede de apoio, amigos, comida, casa e movimento.
Os nossos dias deveriam ser dedicados apenas a sobreviver e a viver.
Voltar ao básico. Plantar e passar tempo com nossa gente. Ir à feira, presentear flores do jardim. Deitar na rede e mergulhar em qualquer corpo d’água deveria ser o essencial.
Não é que eu ache que temos que abdicar de medicina e supermercado, mas sentar na frente do computador fazendo reuniões com gente engravatada, trocar emails e checar o calendário são atividades de doido. Para mim, isso nunca foi novidade. A diferença agora é que meu cérebro parece poder ver o mundo sem o peso do propósito. Não preciso fazer mais que o mínimo.
Mas o que seria o mínimo? Acho que já faço bastante. Tenho um trabalho flexível que me toma (comparativamente com meu meio) bem pouco tempo. Passo mais tempo que a média com meus filhos (não quer dizer que não podia ser mais), vejo o mar pisando na areia toda a semana. Cuido da saúde, pratico esportes. Me mudei para uma cidadezinha com pouco barulho e boa gente. É claro que sempre que der conta, irei colocar no mundo o que aquela vozinha divina sussurrar no meu ouvido. Só que agora sem pressão de dar sentido ou de construir um legado. Espero que meus filhos entendam.
Talvez o mínimo seja apenas garantir o básico e arrumar um pedaço de terra para plantar e pisar descalço.
Sinto que já entendi uma parte. Sigo tentando sacar um pouco mais do resto.
Mini curadoria semanal
Escutando o podcast Não Inviabilize sem parar. É cada história inacreditável.
Estou lendo (e amando) Chomsky e Mujica.
Vi Amigos e Vizinhos na Apple TV e achei incrível. Você ri E passa nervoso.
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O melhor legado de uma mãe é que errando ou acertando dê as melhores oportunidades para seus filhos crescerem e realizem seus sonhos.Sonhos pessoais também são importantes nos fazem mais fortes para realizar os sonhos dos filhos