{Estrangeira #77} Cuidar da saúde é uma jornada extra de trabalho
Sempre desenterrando o céu
Sempre lutei contra meu corpo, minhas compulsões. Até quando era magra, não entendia que era magra porque o padrão de beleza e sinônimo de saúde feminina eram mulheres anoréxicas. Morar em Berlim foi um respiro de autoaceitação e rebelião contra a cultura do corpo, mas isso é papo para outro dia.
Lembro de que nos primeiros meses de relacionamento com meu marido, fui para a Itália. Na volta, mandei uma mensagem dizendo que devia estar com 100kg, uma hipérbole a qual ele levou literalmente (gringo, né) e me respondeu “eu só quero seguir conseguindo te abraçar”. Ri a beça do absurdo que a ideia de pesar mais que cem quilos representava.
Nunca diga nunca.
A coisa toda tomou um rumo esquisito quando em 2022 passei por uma das maiores desilusões da minha vida. Você pode ter a idade que for que o abandono parental vai doer. E quando a gente pisa na merda, chove bosta, né? Então veio também o maior perrengue financeiro que eu já passei. Papo de contar moeda para ir no supermercado e ter seis euros recusados no cartão ao tentar comprar uma camiseta que meu filho precisava. Daí eu engordei 20kg em quatro meses.
A partir do novo peso, quase uma década depois desse papo despretensioso com o gato, coleciono momentos de decidir aceitar meu novo tamanho e de sofrer muito com dores no quadril e pés inchados. Não sei quantas tentativas de jejum intermitente. Muita esperança e muita desilusão.
Mas a gente desenterra o céu, né? Não tem muito o que fazer. Arrumei um emprego temporário classificando ruas para um projeto de mapas. No fim do contrato peguei um freela que virou o trampo que tenho até hoje. Deixei de trabalhar como fotógrafa, não podia mais arriscar. Larguei as violências de Berlim por uma vida mais afetuosa em Portugal.
Veja bem, eu gosto de praticar atividade física, sempre gostei. Com 104kg, nunca parei de praticar. Foi grande mesmo que fiz o caminho de Santiago e comecei a surfar, mas foi ficando mesmo muito difícil. Fisicamente difícil e logisticamente difícil também. Ser imigrante trabalhante com dois filhos pequenos não é brinquedo não. Esse papo de que “quem quer faz” é a maior balela. É preciso muito privilégio além de força de vontade para dar conta de cuidar da saúde e mais ainda para reverter um quadro de obesidade.
Já em Portugal, me vi em momentos de tristeza diante de dificuldades cotidianas, tipo fechar o cinto no avião. São momentos pequenos mais certeiros que nos lembram que algo não está ok. Foi então, com emprego certo e vida mais ou menos estabilizada, que senti que havia chegado a hora de buscar ajuda médica.
Comecei a tomar uma dessas injeções semanais que cortam a compulsão e a fome. Foi um alívio. Comecei a hidroginástica e em dois meses havia batido 10kg perdidos. Logo, comecei a malhar de novo e ganhei 7% de massa muscular em menos de um mês. Foi bem nessa altura que, com uma dor muito forte no meio do peito, fui parar no pronto-socorro.
Aqui, pouparei detalhes, mas tive uma reação rara às injeções mágicas e agora, além de uma caneta de 300 euros na geladeira (alguém quer comprar?), carrego um fígado destruído e pedras na vesícula. Tenho feito muitos exames e talvez seja caso para cirurgia.
Mais uma vez desenterrando céu, comecei a fazer ainda mais exercício que parece ser a única outra coisa que me ajuda a comer melhor além das injeções. Esses dias meu filho mais velho me abraçou e disse surpreendido “Mamãe, eu agora consigo te abraçar inteira!”. Isso também ajuda.
Já foram doze e meio, faltam vinte.
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Não é nada fácil perder peso. Já passei por isso aos 18 anos, quando cheguei a pesar 108 kg. Depende bastante de nós, e também de muitos outros fatores: dinheiro, tempo, cabeça, apoio... Na torcida por sua caminhada!
Não é fácil! Mas você vai conseguir! Porque é resiliente, quer se cuidar e é muito amada! 💪🏻💪🏻💪🏻❤️😘