{Estrangeira #8} Quando pedalei mais de 200 km com um bebê pelo Muro de Berlim
Foram 13 dias de aventura.
Sua bicicleta não é apenas uma bicicleta. Ela é uma cápsula de fuga esperando para ser lançada.
É isso que diz o aventureiro desconhecido, autor dos cadernos encontrados na Amazônia que compõem The Lost Book of Adventure. Eu amo essa frase e adoro esta ideia.
Após o nascimento da minha segunda filha, fiquei com dez meses de licença maternidade paga e meu marido com quatro. Na Alemanha a licença parental é de 14 meses divididos entre os dois cuidadores, mas só consegui creche para minha filha quando ela já tinha mais de um ano e meio. Isso quer dizer que fiquei dura e pegando um ou outro trabalho possível por nove meses. Na época eu era fotógrafa em tempo integral então conseguia até alguma coisa no fim de semana, mas durante a semana era só eu e a E.
Eu já sabia que ficar em casa com a pequena era furada. Mãe de segunda viagem e finalizando meu livro sobre trazer a natureza e a aventura para a vida de famílias com crianças pequenas, eu realmente já havia entendido que do lado de fora fica todo mundo melhor de cabeça.
Sou uma pessoa movida por projetos. Gosto de sonhar, pesquisar, planejar, executar e liberar. Então resolvi criar um projeto que seria só meu e da E.: rodaríamos o caminho da rota de patrulha do Muro de Berlim de bicicleta. Não seria rápido, seria como desse. O legal dessa ideia é que seria ao ar livre, e poderia ser feito em vários dias. Além disso, eu tinha lançado a primeira edição do Guia Prático para o Muro de Berlim dois anos antes e estava prestes a lançar a sua versão atualizada em inglês. Este foi o meu estudo de caso principal durante a vida acadêmica e eu ainda não tinha feito todo esse trajeto.
A noite chegava e eu pesquisava livros e blogs de pessoas que tivessem feito o mesmo. Não havia muito e o que havia estava quase tudo em alemão. Nada com crianças. Logo pensei que daria um ótimo guia, adoro guias. Escreveria em inglês para mais pessoas poderem fazer o mesmo que eu estava prestes a fazer. Manteria registros do caminho. Pronto, o projeto já tinha um propósito e eu estava animada. Adoro propósito mesmo que eu não chegue neles. Eles me dão norte. São como resoluções de Ano Novo.
A primeira etapa foi logo em abril de 2022. Uma semana depois, tive que tirar meu filho mais velho da creche o que resultou nele ficar em casa comigo por 6 semanas até poder começar na nova. Duas semanas depois ele ficou com os avós por um dia e pude fazer mais uma etapa. Assim seguimos, fazendo quando dava. Surgiram duas outras oportunidades nas quais meu marido estava livre e ele nos acompanhou, mas mesmo assim o projeto ainda era meu e da minha filha.
Foram 13 etapas em pouco mais de três meses. Passamos pelo centro da cidade, por florestas, memoriais e museus. Atravessamos um lago de ferry e comemos marmita fria. No último dia encontramos abobrinhas gigantes para doação e levamos uma felizes da vida. Foi como um presente da cidade para nós.
Logo antes da linha de chegada, que ficava bem perto do nosso apartamento onde começamos tudo mais de três meses antes, pedi para meu marido vir ao nosso encontro e filmar a gente chegando. Foi tão gostoso concluir aquela aventura! Aprendi muito sobre minha filha e fortaleci nosso relacionamento de uma maneira que teria sido impossível (para mim) em casa. Ali eu não estava distraída por tarefas intermináveis e pela frustração de não concluir nada com um bebê para cuidar. Parava em parquinhos, em florestas, brincávamos e eu lhe mostrava coisas pelo caminho enquanto concluíamos algo juntas. Cantei muito e ela nunca achava demais.
Cantei muito e mantive um diário, além de fotos e vídeos do percurso e um registro em GPS do nosso caminho. Foram 169 km de trilha e mais de 200 km pedalados, já que sempre tínhamos que sair da trilha para pegar o trem para casa. Foi muito chão. Após descrever nosso décimo terceiro dia eu escrevi:
Estou muito emocionada. Eu e E. vivemos muito durante estes 13 dias que se estenderam por bem mais tempo que esperávamos, pouco mais de três meses. Foram muitos obstáculos no nosso caminho: doenças, imprevistos, crises familiares, nem sei mais. Um monte de coisas, mas conseguimos. Sinto um embrulho no estômago daqueles que sentimos quando terminamos um bom livro o qual não haverá continuação. O tempo de E. em casa direto já vai passar e não haverão outras oportunidades como esta. Só posso ser grata por ter aproveitado este finzinho juntas tão bem. Dividimos muito e ela agora sempre quer colocar o capacete e subir na bicicleta. Terminamos essa jornada com um high five e uma abobrinha e sinto que esse fim é muito a gente mesmo. Espero que um dia, quando conte desta aventura para E., ela se inspire e guarde essas histórias com afeto. Eu com certeza me inspiro nela e me inspirei nela para perseverar nessa aventura.
Obrigada, filha!
Com sorte, temos uns 12 ou 13 verões com nossos filhos querendo estar conosco. Não precisamos ir longe, mas aonde quer que possamos ir, que seja com propósito.
Consegui mencionar todos os meus livros disponíveis na Amazon aqui, mas não foi de propósito. É que essa história aconteceu mesmo no meio de muita coisa que tinha a ver com estas publicações.
Mas agora é de propósito. Se você quiser conhecer mais do meu trabalho, não deixe de conferir este link onde você encontra todas as minhas publicações disponíveis para compra. Nas Amazon gringas você encontra o meu livro do Muro em inglês e o Mamãe Outdoor: viagem e aventura com crianças para pronta entrega. :)