Lembro da recém-aberta Fnac no Barra Shopping, no Rio. Adorava passar lá depois do treino no clube para ficar virando página dos livros. Minha amiga Mari nas histórias em quadrinhos, eu nos livros de viagem e a Cecília nos dois.
No iniciozinho dos anos 2000 você via um ou outro Lonely Planet importado por uma fortuna muito maior que a minha mesada adolescente, mas você também via o guia O Viajante. Porra, taí um livro que me fazia voar longe. Um guia de brasileiros para brasileiros.
Meu primeiro mochilão foi em 2004 e eu fiz com o Lonely Planet da Europa. Um tijolo gigante, um investimento real. Foi meu melhor amigo por meses. Acho que nessa época ainda não existia O Viajante da Europa. Em 2005, quando fui com a Mari para Bolívia e Peru, fui com ele, com O Viajante. Era um livro divertido que também tinha frases prontas engraçadas em espanhol, “no soy gringo” e coisas assim.
Sabe, meu projeto final do bacharelado foi um guia de viagens. Fiz um guia de destinos de aventura na Colômbia. Apesar dos muitos interesses, não tem tema mais querido para mim do que esse.
Em 2011, no meio da minha mudança para Berlim, engatei em um processo seletivo para participar da atualização do guia O Viajante da Europa e passei. Porra, foi demais. Não pagava quase nada, mas talvez tenha sido o trabalho que fiquei mais feliz de ter sido selecionada para fazer na vida.
De ser selecionada, né. Porque o trabalho em si não era muito glamuroso não. De qualquer maneira, sempre me orgulhei de fazer parte de um projeto de uma editora que me levou tão longe desde as prateleiras da Fnac.
A internet foi crescendo, mas os guias continuaram me acompanhando. Adoro carregar um guia comigo. Ter acesso a a ideias de lugares para visitar de dentro do carro. Não quero pesquisar na internet, cara. Meu ponto de partida millennial são os guias. Ah, e eu adoro presentear as pessoas com guias também.
Uma coisa incrível na Alemanha é a quantidade de editoras de livros de viagem. Eu me deleitava nas livrarias, olhava todos, comprava vários e sentia pena de não haver mais opções em português. Em alemão você encontra guias para todo tipo de viajante, para todo tipo de aventura e com todo tipo de organização. Por exemplo, quer um livro sobre as melhores peregrinações de bicicleta na Europa? Tem.
Quando larguei o doutorado e resolvi publicar meus próprios livros de viagem, me deparei com a questão do idioma. Sabemos que livros em português demoram a sair do estoque, ainda mais os sobre viagens. Só que existe em mim uma paixão tão grande por disseminar viagens fora das redes sociais e uma vontade de ter isso a partir de uma visão não-gringa, que fiz os meus na língua materna.
Sabe uma vontade absurda de colocar no mundo algo de dentro? Pois.
Mini curadoria semanal
Descobri o novo podcast Má Influência sobre trambiqueiros de internet e estou me divertindo.
Você viu o vídeo de Dia das Mães do Euro Dicas que eu participei?
Comecei o curso novo sobre escrita da Rafaela Carvalho, EscreVER.
Me identifiquei muito com seu texto! Cresci sonhando em ter um guia d’O Viajante e, é claro, usá-lo na estrada. No meu aniversário de 15 anos, pedi um guia da Folha sobre Londres (era mais barato, eu acho) e o lia como livro de cabeceira —só visitei a cidade 7 anos depois.
Já com essa viagem de volta ao mundo em mente, participei de 2 cursos de escrita de viagem do Zizo Asnis em São Paulo —fiz parte de uma coletânea de textos da editora, o “Embarque Imediato”.
Hoje realizei o sonho, ao lado da minha esposa, de publicar um livro sobre a primeira temporada de nossa viagem, sobre África e Oriente Médio. E, se tudo der certo, é o primeiro de vários!